Neuropsicopedagogia Clínica

Neuropsicopedagogia Clínica



Ana Lúcia Hennemann[1]

     A Neuropsicopedagogia Clínica, aos poucos vem conquistando espaço no território brasileiro surgindo como uma nova área do conhecimento e pesquisa na atuação interdisciplinar, abarcando conhecimentos neurocientíficos e tendo seu foco nos processos de ensino aprendizagem. Está pautada em atividades que avaliam e intervêm nos processos de aprendizagem procurando obter informações de todas as ciências que possam contribuir para formar o entendimento mais detalhado da aprendizagem de cada indivíduo.  Assim sendo, a Neuropsicopedagogia que "agrega conhecimentos da neurociência aplicada à educação, psicologia cognitiva e pedagogia" (SBNPp, 2016) realiza um trabalho de prevenção, pois avalia e auxilia nos processos didático-metodológicos e na dinâmica institucional para que ocorra um melhor processo de ensino-aprendizagem.    
A Neuropsicopedagogia, já era conhecida em alguns países tais como Espanha, Colômbia, México, sendo assim, o portal mexicano de Psicopedagogia, voltado para definições de conceitos a cerca das ciências, tendo como referência o Dr Alberto Montes de Oca Tamez (2006), PhD em Neurociência, define a Neuropsicopedagogia como:
... um exercício de trabalho interdisciplinar sobre o processamento de informações e modularidade da mente em termos de Neurociência Cognitiva, Psicologia, Pedagogia e Educação, que ocorre na formação multidisciplinar de profissionais voltados à área educacional. O neuropsicopedagogo deve ter amplo conhecimento dos diferentes modelos, teorias e métodos de avaliação, planejamento, currículo dos diferentes níveis de ensino. Além disso, deve ter amplo conhecimento da base neurobiológica do comportamento psico-educacional e da reabilitação neurocognitiva tanto em crianças, adolescentes, sujeitos idosos e pessoas com necessidades especiais. (tradução minha [2])

No mesmo ano que TAMEZ elabora esta definição de Neuropsicopedagogia, Suárez publicou um artigo intitulado “Desmitificación de La Neuropsicopedagogía”, sendo que o mesmo traz toda evolução histórica da Neuropsicopedagogia, constituindo-se assim um documento importante dentro dessa área de conhecimento. Suárez (2006 apud De La Peña 2005), no transcorrer de seu trabalho científico nos traz essa importante contribuição:
A Neuropsicopedagogia agrega os conhecimentos da Psicologia e Neuropsicologia, compreendendo o funcionamento dos processos mentais superiores (atenção, memória, função executiva,....) de explicações psicológicas e instruções pedagógicas tem como objetivo fornecer uma estrutura de conhecimento e de ação para a descrição completa: o tratamento, explicação e valorização do ensino - aprendizagem que ocorrem ao longo da vida do aluno, promovendo uma educação integral com impacto além da escola e o período de tempo e tipo de aprendizagem estabelecido como válido. (tradução minha [3])

No Brasil a Especialização em Neuropsicopedagogia é muito recente, mas em países tais como Espanha, através da Universidade de Girona, o curso de Mestre em Diagnóstico e Intervenção Neuropsicopedagógica irá para sua 14ª edição e em Barcelona ocorrerá a 5ª edição. Nestes dois municípios também constam o curso em Especialização em Neuropsicopedagogia Clínica na modalidade à distância.
Na Colômbia, através da Universidade de Manizales, desde 2007 já se tem notícias de especializações nesta área. Inclusive numa das páginas do site desta Universidade, a Neuropsicopedagogia é citada da seguinte maneira:
...um campo interdisciplinar de ação, em que as contribuições da Psicologia e Neuropsicologia permitem uma maior compreensão dos processos de ensino-aprendizagem proporcionando ao ser humano melhores condições educacionais e sociais. Partindo de uma reflexão conceitual particular, disciplinar, social e cultural no processo de aprendizagem escolar, exigindo uma abordagem que não pode ser concebida através da fragmentação do indivíduo, mas a partir da necessidade de análise crítica de fenômenos complexos que influenciam e afetam a capacidade de aprender e suas demandas clínicas e educacionais. A Neuropsicopedagogia está se tornando uma prioridade, através da integração de diferentes abordagens e colaboração de várias disciplinas que ampliam a compreensão e as estratégias de intervenção clínica e / ou educacional, obtendo assim respostas práticas, conceituais e metodológicas. (tradução minha[4])
 
 No Brasil, por volta do ano 2007, surgem relatos de um trabalho, a nível de mestrado, intitulado “A avaliação neuropsicopedagógica de crianças surdas: O estudo dos processos corticais simultâneos de sucessivos, visuo-motores e verbais, através de testes neuropsicológicos”. O presente trabalho promovido pelo Laboratório de Neuropsicologia Cognitiva e Neurociências da Surdez do INES (NEUROLAB – INES) em parceria com o Centro de Informação das Nações Unidas (UNIC Rio) e com o NCE-LABASE-UFRJ apresentava várias linhas de pesquisa tendo como base o desenvolvimento de dez plataformas computadorizadas. A metodologia consistia em “um conjunto de mil jogos neuropsicopedagógicos e metacognitivos, construídos de acordo com um modelo lúdico isomórfico às funções mentais superiores e aos sistemas de processamento da consciência”, porém o objetivo era oferecer meios que facilitassem o desenvolvimento cognitivo-linguístico de crianças com deficiência, patologias ou atrasos no desenvolvimento, através da ludicidade e da informática. Este projeto na área tecnológica contribuiu e muito para o processo de inclusão utilizando dos conhecimentos neurocientíficos, sendo que uma das colaboradoras do projeto menciona a Neuropsicopedagogia como uma área que:
...estuda a interação entre o cérebro, a mente e o aprendizado, possibilitando, através de métodos rigorosamente científicos, o planejamento de intervenções precisas que promovam o desenvolvimento de sujeitos epistêmicos. (MARQUES, 2008, p.11)

Em entrevista para a Associação Brasileira de Psicopedagogia - ABPb, através de Racy e Vieira (s.d.), Dr Marco Tomanick  Mercadante[5],  contextualiza a Neuropsicopedagogia com as seguintes palavras:
Um campo do conhecimento que procura reunir os avanços advindos das neurociências com a psicopedagogia. Assim, o profissional com essa perspectiva deve ter conhecimento amplo das bases neurobiológicas do aprendizado, do comportamento e das emoções, e dominar os elementos clássicos da psicopedagogia. Além disso, uma coerência epistemológica que garanta uma adequada articulação dessas áreas dispares do conhecimento é fundamental para a atuação na área.
 
Em 2009, percebendo a necessidade de um curso que resgatasse as interfaces do cérebro e do desenvolvimento humano, a Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, apresenta como curso de extensão, na condição de Educação à Distância, o curso “Desenvolvimento Neuropsicopedagógico: Contribuições das Neurociências para a Educação”.  Para referido evento, consta na apresentação do curso o conceito de Neuropsicopedagogia, entendida como:
...contribuições da neurociência no processo de ensino e aprendizagem, como uma possibilidade de aproximar as descobertas sobre as funções cerebrais que interferem na cognição e como podemos explorar determinadas características do funcionamento cerebral em diferentes contextos de ensino. [...] visa discutir o desenvolvimento neurológico, a plasticidade cerebral e alguns desvios a fim de repensar estratégias e recursos que possam interferir de modo positivo nos processos de desenvolvimento humano, aprendizagem e ensino. (PUCRSVIRTUAL, 2009)

E nesta linha de concepção Krug (2011 apud Rodrigues 1996, p.40) apresenta o conceito de Neuropsicopedagogia com as seguintes palavras:
Abordagem neurológica de distúrbios e de incapacidades de aprendizagem. A Neuropsicopedagogia é de grande utilidade para o psicopedagogo clínico, pois possibilita o diagnóstico de processos anormais na estrutura, na organização e no funcionamento do sistema nervoso central, por meio de testes de avaliação neuropsicológica, aplicáveis a indivíduos portadores de problemas de aprendizagem.

 Pode-se perceber que a terminologia Neuropsicopedagogia, apesar de não estar explicita em nenhum dos dicionários já vem sendo utilizada no contexto brasileiro. Nos estados do sul do Brasil, universidades tais como: PUC e UFRGS apresentam como disciplina nos cursos de graduação, voltados a Pedagogia, os Estudos Neuropsicopedagógicos, os quais Forner (2009, p71-72) faz a seguinte referência:
No nível I, a disciplina Estudos Neuropsicopedagógicos chama a atenção, por enfatizar aspectos que contemplam as ideias do estudo. Eis a sua ementa: Estudo do desenvolvimento humano na perspectiva da genética e da Neuropsicopedagogia, aproximando estes saberes com foco nas bases biológicas da aprendizagem, na busca de melhores formas de ensinar e de aprender. Os objetivos da disciplina convertem para a real necessidade de os futuros professores reconhecerem as dificuldades de aprendizagem de seus alunos, bem como as possíveis alternativas de trabalho. Isto é, terem subsídios para planejamento que atenda às demandas que surgem nas salas de aula. A disciplina se propõe a fazer com que os estudantes de Pedagogia conheçam o funcionamento neural, o desenvolvimento neuropsicológico, desde a concepção até a morte, destacando a neuroplasticidade, bem como as bases biológicas e influência do uso de drogas pelos pais de crianças, bases neurológicas da entrada, processamento e saída da visão, audição, tato, movimento e atenção. A partir desses conhecimentos, enfim, busca contribuir para que os professores possam realizar as intervenções, considerando aspectos do desenvolvimento normal e das dificuldades de aprendizagem.

O grande avanço da Neuropsicopedagogia no Brasil se deu através do Centro Sul Brasileiro de Pesquisa e Extensão - CENSUPEG. Dentro deste contexto educacional  os profissionais da Neuropsicologia Clínica são capacitados para:
• Compreender o papel do cérebro do ser humano em relação aos processos neurocognitivos na aplicação de estratégias pedagógicas nos diferentes espaços da escola, cuja eficiência científica é comprovada pela literatura, que potencializarão o processo de aprendizagem.
• Intervir no desenvolvimento da linguagem, neuropsicomotor, psíquico e cognitivo do indivíduo.
• Adquirir clareza política e pedagógica sobre as questões educacionais e capacidade de interferir no estabelecimento de novas alternativas neuropsicopedagógicas e encaminhamentos no processo educativo.
• Compreender e analisar o aspecto da inclusão de forma sistêmica, abrangendo educandos com dificuldades de aprendizagem e sujeitos em risco social.
Dessa forma, na releitura das citações anteriores pode-se afirmar que a Neuropsicopedagogia apresenta-se como um novo campo de conhecimento que através dos conhecimentos neurocientíficos, agregados aos conhecimentos da pedagogia e psicologia vem contribuir para os processos de ensino-aprendizagem de indivíduos que apresentem dificuldades de aprendizagem. A partir do ano de 2011, mais centros educativos tem ofertado este curso, que é o caso da UNOPAR- Universidade Norte do Paraná e da CEEDI (Centro de Excelência em Educação Integrado – Balneário Camboriú, SC).

http://neuropsicopedagogianasaladeaula.blogspot.com.br/2012/06/neuropsicopedagogia-clinica.html

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